Reestruturar as médias e grandes cidades com a convergência para um ambiente onde as pessoas sejam os principais agentes, tendo como apoio um sistema eficaz de transporte público para se alcançar a tão ambicionada mobilidade urbana. Essa tem sido a busca e o foco de especialistas para um desenvolvimento consciente e sustentável, apesar das adversidades encontradas nas grandes aglomerações urbanas brasileiras, que se expandiram sem nenhum planejamento em todos os setores da máquina pública.
Durante o 1º Encontro sobre Mobilidade Urbana – Possibilidades, Desafios e Polêmicas, realizado no 9º Salão Latino Americano de Veículos Elétricos, Componentes e Novas Tecnologias, em São Paulo, o tema teve destaque na voz de conhecedores do transporte público e da saúde pública, que defenderam os corredores de ônibus racionalizados, conhecidos como Bus Rapid Transit (BRT), como soluções de pouco custo, rápida implantação e de cunho sustentável, pois proporciona uma redução da poluição emitida e retira das ruas um número considerável de automóveis.
Paulo Saldiva, médico especialista em poluição atmosférica e professor da Faculdade de Medicinada Universidade de São Paulo (USP), proferiu sobre os problemas causados pela poluição veicular nos ambientes urbanos, revelando que 10% dos infartos do miocárdio no mundo são causados pelo tráfego e na cidade de São Paulo a cada ano 5 mil pessoas morrem por causa das emissões poluentes. Para o médico, o transporte de massa é totalmente viável do ponto de vista econômico, já que dados apontam que a cada R$ 1,00 investido em transporte de baixa emissão, o poder público ganha R$ 8,00 de economia em saúde pública. 
O transporte coletivo tem a sua importância quando se fala em desenvolvimento urbano eficaz e com alto desempenho. O especialista em sistemas de transporte público urbano, Paulo Sergio Custódio, mostrou que “otimizar o sistema de ônibus” é uma solução de curto prazo e adequado para as cidades. Segundo ele, dois conceitos são básicos para essa solução: o primeiro é o desenvolvimento urbano orientado para o transporte coletivo e o segundo é o crescimento inteligente. Para Custódio, a cidade com maior equilíbrio de usos do solo pode reduzir a necessidade de infraestrutura de transporte em até 30%.
Já o arquiteto e urbanista Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba (PR) e criador do sistema BRT, com as canaletas exclusivas para os ônibus na capital paranaense no princípio dos anos de 1970, o futuro da mobilidade urbana é o poder público começar a pensar em soluções de transporte que utilizem o solo, a superfície e idealizem um sistema viário totalmente integrado. Em termos de mobilidade elétrica, Lerner ressaltou que criar vias de deslocamentos que possam ser utilizadas por transportes públicos elétricos de qualidade e que todos estejam interligados entre si, pode resultar em um cenário mais positivo.
Para os organizadores desse 1° Encontro, o contexto mundial prova que este tema é de uma relevância enorme e que o entendimento e ação conjunta dos três setores: público, privado e sociedade civil, é fundamental se quisermos resolver a problemática muito comum e que a cada dia cresce, que é a imobilidade urbana.
O desafio para um novo paradigma de transporte público é enorme. O que falta hoje é uma maior presença do planejador urbano e público, que não tenha receio em inovar para melhorar uma situação que chegou ao insuportável em determinados locais. Os sistemas de BRT contribuem de uma maneira muito próxima aos modais férreos – trens e metrô. Outro detalhe é que essa modalidade de transporte feito pelo ônibus pode ter um caráter muito atrativo ecologicamente, pois as configurações atuais dos veículos permitem tipos variados de tração com baixo impacto ao ambiente, como é o caso do ônibus híbridos (diesel/elétrico), totalmente elétricos (trólebus) e ainda os movidos por combustíveis verdes (etanol e diesel da cana-de-açúcar).
Com o BRT, as pessoas podem ter qualidade de vida, pois têm ao alcance um maior tempo para descansar, dormir, ficar com a família, estudar e trabalhar em condições melhores, afinal esse conceito é um exemplo de transporte coletivo rápido e eficiente, onde o que conta são os benefícios e vantagens proporcionados, não só ambientais, mas também econômicos.
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